segunda-feira, 12 de abril de 2010

Manobra contábil "reduziu" dívida dos bancos em 42%

Estratégia foi utilizada até por grandes instituições nos EUA, como Citigroup, Bank of America e JPMorgan Chase

Segundo o Fed, prática vem sendo adotada nos últimos 5 trimestres; governo Obama ainda não conseguiu impor medidas para controlar setor.

Novos dados que acabam de vir a público revelam que os principais bancos norte-americanos continuam "torturando" números e resultados a fim de passar a impressão ao mercado de estarem mais saudáveis do que de fato estão.

Segundo informação divulgada pelo Fed (o banco central regional) de Nova York, 18 bancos norte-americanos vêm inchando e desinchando sistematicamente os números relativos ao seu endividamento nos últimos cinco trimestres com esse objetivo.

Ao final de cada trimestre, os bancos são obrigados a apresentar balanços completos. O levantamento do Fed mostra que, pouco antes de apresentarem os números ao mercado, eles adotaram práticas contábeis legais que diminuíram em 42%, em média, seu nível de endividamento.

Logo depois da publicação dos balanços, o volume de dívidas voltou a subir.
A estratégia foi adotada por três dos maiores bancos norte-americanos (Citigroup, Bank of America e JPMorgan Chase), além de outros que estiveram no centro da crise financeira do final de 2008 e ao longo de 2009, como Goldman Sachs e Morgan Stanley.
Na prática, a redução do endividamento no momento da apresentação do balanço faz com que o banco pareça mais sólido do que realmente está.

O alto grau de endividamento bancário nos EUA foi o que detonou a maior recessão do pós Segunda Guerra na maior economia do mundo e nos países avançados a partir de 2008.
Muitos bancos norte-americanos chegaram a emprestar até US$ 35 para cada US$ 1 que tinham em ativos. A maioria dos empréstimos foi destinada ao mercado imobiliário, que vivia uma "bolha" de crédito.

Em um determinado momento, os mutuários começaram a ter dificuldades em honrar suas dívidas, o que abriu rombos enormes nas carteiras dos bancos.

Segundo dados do IIF, entidade que reúne os maiores bancos do mundo, até agora a maioria das instituições ainda não conseguiu levantar capital suficiente para cobrir as perdas acumuladas ou potenciais resultantes da crise.

Desta vez, a prática mais comum (e potencialmente danosa) detectada pelo Fed é a de os bancos se endividarem além da conta para aumentar seu poder de fogo. Os bancos usam dinheiro tomado em empréstimos no mercado para investir em títulos e papéis que os remuneram mais do que eles pagam pelos créditos. Esses títulos comprados são então dados em garantia para que os bancos tomem novos empréstimos para comprar mais e mais títulos.

Assim, os bancos podem aumentar rapidamente o volume de operações e ganhos sem colocar necessariamente dinheiro próprio nas operações. O risco é de os donos de parte desses títulos entrar em crise e deixar de remunerá-los, o que pode ter forte impacto sobre toda essa cadeia de dívidas -como aconteceu no setor imobiliário.

Mas, do ponto de vista dos negócios mais tradicionais dos bancos, de tomar dinheiro no mercado e emprestar a empresas, o volume de operações continua ainda bem abaixo em relação ao final de 2008.

O governo Barack Obama vem perseguindo uma série de medidas para impedir práticas como a detectada pelo Fed de Nova York, bem como impedir que os bancos ofereçam compensações milionárias a seus funcionários -o que acaba sendo um estímulo para que assumam riscos elevados.

Na prática, porém, nada nesse sentido foi adotado até agora. E os bancos vêm patrocinando um poderoso lobby no Congresso para impedir que as medidas entrem em prática.

Fonte: FERNANDO CANZIAN da Folha de São Pualo, 10.04.2010 - via Fenacon

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