quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Macumba x IFRS x Análise de Balanços

Vantagens e desvantagens da migração para o IFRS

A adoção das normas contábeis internacionais não significa aumento da transparência do mercado financeiro e trará nos desafios tanto para as companhias quanto para os investidores brasileiros. A avaliação é de Paul Sutcliffe, sócio líder de IFRS no Brasil, Ernst & Young, especializado na prestação de serviços de implementação de IFRS para empresas. Após lembrar que antes de ser adotado na Europa o IFRS (International Financial Reporting Standards) era usado em países de menor expressão, destacou, durante sua apresentação no 11º do prêmio da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), que "não há garantia de transparência. Além disso, o risco de o investidor ou analista não entender o que mudou é alto. Este não é um caminho fácil".

O especialista lembrou que a alteração dos padrões contábeis das companhias provoca a mudança nas decisões dos investidores, que costumam olhar a última linha do balanço. "O risco é de que os interessados não entendam as alterações", alertou. Segundo Sutcliffe, a mudança em uma linha do balanço pode fazer a empresa passar de um prejuízo bilionário para um lucro também bilionário. "Dependendo de como é a contabilidade, o lucro vira prejuízo. Parece macumba", brincou.

Amortização de ágio

Um dos exemplos dados por ele é a forma como é conduzida a amortização de ágio, que mexe consideravelmente no resultado final da companhia. Com a migração para o IFRS, o ágio pago em aquisições de outras empresas, baseado em expectativa de rentabilidade futura, não pode mais ser amortizado.

Leia a íntegra da matéria em: Monitor Mercantil (grifos nossos)

COMENTÁRIO

Esta declaração do líder de implantação de IRFS da Ernst & Young desmitifica a idéia que tudo serão flores. Como ele mesmo diz "Dependendo de como é a contabilidade, o lucro vira prejuízo. Parece macumba".

Como este "dependendo" gostaria de destacar que não apenas lucro pode virrar prejuízo, o que afastaria os investidores. Mas o PERIGO (a macumba) é prejuízo virar lucro, especialmente quando decorrerem de avaliação subjetivas a "valores justos".

Não devemos nos esquecer que os lucros da ERON, que atraía os investidores, foram motivadas pela falsa idéia de lucratividade mostrada nas maquiagens contábeis da empresa. Lucro sem caixa é "um perigo".

EM TEMPO

Na mesma matéria citada acima consta que uma Igreja concorreu ao Prêmio Abrasca 2009. Foi a Igreja Batista do Morumbi. Coisa rara em tempo de transparência. Exemplo a ser seguido pela demais instituições religiosas. Quem sabe, uma obrigatoriedade de auditoria independente deva ser imposta "em troca" da imunidade constitucional. Um bom tema para reflexão dos nossos parlamentares. Como diz o ditado: "quem não deve, não teme"!

Veja a seguir a transcrição do respectivo trecho da matéria (grifos nossos).

A Abrasca anunciou as companhias vencedoras do prêmio de relatório anual na manhã desta quarta-feira. O grande vencedor foi o Banco Bradesco, que ficou em primeiro lugar entre as companhias abertas, com receita líquida acima de R$ 1 bilhão. Foram dez finalistas nesta categoria. Para o Nível 2, categoria de companhias abertas, com receita abaixo de R$ 1 bilhão, ficou em primeira colocação a Santos Brasil, que se destacou entre os cinco finalistas. Já entre as fechadas, o destaque ficou para a Samarco, ligada à Vale e a fornecedora da Petrobras TBG (Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil).

Criado em 1999, o prêmio Abrasca visa incentivar a transparência e o relacionamento das companhias com os seus públicos relacionados (stake holders). "Um relatório bem feito significa ganho de imagem para a companhia", declarou o presidente da Abrasca, Antonio Castro. Esta edição registrou algumas modificações nos critérios por conta das alterações nas normas contábeis.

Desde 2008, o prêmio passou a contar com uma nova categoria: Organizações Não-Empresariais. Quem ficou na primeira colocação foi o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev). Mas a concorrência foi grande. "Hoje o prêmio é um índice de referência consolidado para o mercado. As empresas levam muito em conta a classificação e, inclusive, divulgam como foram pontuadas no próprio relatório anual", ressaltou o professor Lélio Lauretti, que passou o bastão de coordenador do prêmio para a presidente da Apimec, Lucy Souza.

Segundo Lauretti, a inclusão das ONGs trouxe surpresas. Um dos concorrentes foi o relatório da Igreja Batista, que fica no Morumbi, em São Paulo. O documento foi publicado e auditado por independentes e ainda contém ressalvas. "A governança corporativa passa a se institucionalizar. É interessante ver que as igrejas também se interessam em prestar contas", disse. A igreja conta com 5 mil fiéis e seu relatório foi julgado por Lauretti como um exemplo a ser seguido. "O documento tem franqueza e objetividade", classifica.

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