segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Roubo da História

Por Paulo Pires

Uma das coisas mais impressionantes nos Países Centrais e respectivas sociedades é a incrível vocação para olvidarem o que ocorre em outros lugares e suas dedicações exclusivas somente ao que ocorre em seu derredor.

Se não aconteceu em Nova Iorque pouco interessa. Tudo gira ao redor deles, com eles, para eles. Não ouvem ninguém, não vêem ninguém, os outros não interessam. O que lhes importa é a sua satisfação pessoal etnocêntrica e que tudo o mais vá pro inferno.
Por causa de coisas dessa natureza, um grande intelectual britânico (isso mesmo, inglês) escreveu um livro sensacional intitulado O Roubo da História. Em uma das apresentações da obra, o resumo alerta a todos e traz-nos para reflexão a seguinte exposição:

“Se o Ocidente tivesse levado a sério Jack Goody, teria entendido melhor o desenvolvimento supostamente inexplicável da China, assim como o surgimento dos "tigres asiáticos" e do próprio "milagre japonês". O mundo não se resume à Europa e aos países de colonização européia. Óbvio? Talvez. Mas o fato é que nunca houve um livro como O Roubo da História. Nesta obra, o autor critica aquilo que considera um viés ocidentalizado e etnocêntrico, difundido pela historiografia ocidental, e o conseqüente "roubo", perpetrado pelo Ocidente, das conquistas das outras culturas. Goody não discute apenas invenções como pólvora, bússola, papel ou macarrão, mas também valores como democracia, capitalismo, individualismo e até amor. Para ele, nós, ocidentais, nos apropriamos de tudo, sem nenhum pudor. Sem dar o devido crédito”. Ele só esqueceu-se de citar diretamente o ouro, o cobre, os diamantes, as especiarias e tudo quanto os europeus puderam roubar da África e América Latina.
Claro que nossa cultura não é muito dada ao cultivo da Ética no sentido mais largo do termo. O que nos importa é o sentimento de posse, propriedade, poder, domínio.

Tudo isso justifica a existência do capitalista. Solidariedade, fraternidade, igualdade em seus significados mais amplos são valores “teóricos, abstratos, inalcançáveis”. Ou seja, isso é coisa para alienados ou babacas que “nunca caem na real”.

O fato é que o professor Jack Goody, antes de se afastar desse mundo trôpego, dá sua contribuição e de lá, de sua prestigiosa Universidade de Cambridge, manda seu recado. Claro que aqueles velhos teóricos de Viena ou da Escola de Economia de Chicago, herdeiros do Neoliberalismo de Friedman e Hayek devem ter ficado furiosos com o velho professor inglês.

Insisto que em razão do “fracasso dos sistemas Capitalista e Socialista” que estão à nossa disposição faz-se necessário urgentemente uma revisão de todo o processo de organização mundial, para que tenhamos um planeta mais justo, mais humano. A ONU, o Banco Mundial, o FMI, o G-7, o G-20, os BRIC, CEPAL, OCDE, OEA, MERCOSUL, OCDE, União Européia, precisam revisar o mundo e redirecioná-lo para algo que explique a existência do homem como algo justificável. Do jeito que está, como diria doutor Fernando Henrique, não dá! Como não foi possível o ponto de intercessão entre as virtudes do Capitalismo com as do Socialismo, é hora de refazer tudo. Precisamos de uma Terceira Cultura, já! É isso aí

Prof. Paulo Pires - Mestre em Contabilidade, intelectual conquistense, Coordenador do Curso de Ciências Contábeis da UESB.

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