quinta-feira, 8 de julho de 2010

Auditoria: EUA e Brasil - Credibilidade sob suspeita

Depois da Deloitte, fiscal americano levanta problemas em auditoria da BDO
Nelson Niero, de São Paulo
02/07/2010


O órgão fiscalizador da contabilidade americano encontrou supostas falhas de auditoria em trabalho feito pela BDO Auditores Independentes em 2007.

O relatório, publicado no site do Conselho de Supervisão de Contabilidade de Companhias Abertas (PCAOB, em inglês), é o segundo sobre auditorias feitas no Brasil de empresas com registro no mercado americano.

Há duas semanas, o PCAOB divulgou um relatório que critica a auditoria da Deloitte em dois de seus clientes. A firma contestou as conclusões, alegando diferenças de interpretação.

A inspeção na BDO, na época ainda chamada BDO Trevisan, foi feita entre 30 de abril e 4 de maio de 2007 e foi focada num único cliente. O PCAOB não revela o nome da empresa.

"Foi positivo como a primeira inspeção de uma firma do nosso porte", disse ao Valor Márcio Peppe, sócio responsável pela área de risco da BDO. "Encaramos as críticas como sugestões." Uma segunda checagem já foi feita no ano passado, cujo resultado é esperado para 2011, informou.

Dos quatros pontos ressaltados pelo órgão americano, três se referem a descontos dados pelo cliente da BDO a fornecedores que teriam sido registrados erroneamente no balanço. Outra questão levantada foi o que o PCAOB considerou procedimentos insuficientes para avaliar as contas a receber (pagamentos em dinheiro e por meio magnético) desse cliente.

"Os descontos entraram no balanço como despesas, mas a equipe do PCAOB achou que deveriam entrar como uma redução da receita de vendas", afirmou. "É uma discussão de enquadramento, com resultado zero, sem efeito no lucro ou prejuízo do período."

Na inspeção da Deloitte, o PCAOB fez observação semelhante sobre o registro de um desconto dado a um fornecedor pela companhia auditada. A mudança também não alterava o resultado líquido e foi considerada "uma questão de apresentação" pela Deloitte.

Quanto às críticas sobre a checagem das contas a receber, Peppe discorda da conclusão. "Auditoria trabalha por amostragem", disse. "Fizemos exames em mais de 60% do saldo das contas, o que é bastante significativo."

O PCAOB foi criado pela Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, na esteira dos grandes escândalos contábeis do começo da década passada nos Estados Unidos. Antes, o setor era autorregulado.

Desde então, as firmas de auditoria americanas e aquelas com clientes que acessam o mercado americano estão sujeitas a inspeções periódicas do órgão privado dos EUA. Esse tipo de interferência em trabalhos locais vem encontrando resistência em alguns países.

Resistência dentro e fora de casa
Rachel Sanderson, Financial Times, de Londres
02/07/2010


Por pouco o Conselho de Supervisão de Contabilidade de Companhias Abertas (PCAOB) não fechou as portas. Na segunda-feira, a Suprema Corte decidiu por cinco votos a quatro que o órgão criado pela lei Sarbanes-Oxley poderia continuar existindo nos moldes atuais, com pequenas alterações.

Os autores do processo, um grupo chamado Fundo da Livre Iniciativa e uma empresa de auditoria de Nevada, alegavam que o PCAOB violou uma cláusula da Constituição americana que dá ao presidente poder para nomear autoridades públicas. O PCAOB está sob o comando da comissão de valores mobiliários americana, a SEC.

Aparentemente, o objetivo mais amplo era derrubar integralmente a Lei Sarbanes-Oxley ou paralisar a PCAOB.

A existência do órgão é controvertida entre os políticos favoráveis a menor interferência governamental nos EUA e entre alguns contadores que não gostam de seus amplos poderes fiscalizadores. A missão do PCAOB, de criar regras que "possam ser necessárias ou convenientes ao interesse dos cidadãos ou para a proteção dos investidores", custou à economia quase US$ 1 trilhão, de acordo com um estudo do American Enterprise Institute e da Brookings Institution. O benefício é, supostamente, proteger os investidores.

O PCAOB também se defrontou com oposição na Europa e na China, onde está impedida de realizar s inspeções em empresas não americanas que têm ações negociadas em bolsas americanas. Na próxima semana, a União Europeia deverá suspender sua oposição a inspeções da PCAOB na Europa, depois de adiar a votação na sexta-feira passada para aguardar a decisão da Suprema Corte.


Fonte: Valor Econômico, via FENACON

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