Qualificação: Mudanças na profissão apontam necessidade de reciclagem
por Lara Ely
Com o advento da lei 11.638, que converte às normas brasileiras aos padrões internacionais pelo IFRS e uma outra dezena de alterações nas leis e decretos do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), o momento atual é de mais responsabilidade e oportunidade profissional do que há cerca de dez anos. Com a velocidade que a profissão sofre mudanças, a alta demanda por serviços exige que os profissionais contábeis busquem cursos de atualização e mantenham-se em um processo de educação continuada.
Atentas à importância deste momento transitório, as entidades de classe têm se esforçado para oportunizar aos seus associados uma série de eventos que incentive a atualização, a exemplo do Conselho Regional de Contabilidade. Segundo o presidente do CRC - RS, Rogério Rokembach, em função da mudança da legislação a entidade tem promovido seminários e palestras que visam a manter os profissionais informados sobre as mudanças. E apesar de a principal função do Conselho ser a fiscalização e registro da profissão, Rokembach entende que é seu papel alertar o que vem por aí e quais as habilidades requeridas pelo mercado.
A necessidade de melhorar os conhecimentos em tecnologia está entre as novas exigências. "Além dos aspectos tributários e contábeis, os contadores vão precisar avançar muito em seus conhecimentos de tecnologia, por exigência da legislação, e para garantir a sobrevivência e ter prosperidade", afirma ele. Outro ponto importante apontado pelo presidente do Conselho é que as empresas de contabilidade precisam aprender a se fortalecer, avaliando a possibilidade de fazer fusões para ter mais crescimento, e aí sim ter porte para investir em tecnologia.
Além dessa modernização, os cursos mais pretendidos pelos que querem se atualizar, historicamente, são voltados a auditoria, perícia e contabilidade pública. A contabilidade internacional desponta como outra área de maior procura para especialização, e segundo Rokembach, o segmento tem muito a crescer, já que o assunto é recente e o mercado ainda não está preparado para dar conta da atual demanda.
O maior desafio apontado pelo representante da categoria, no entanto, está relacionado ao empreendedorismo na profissão. "O contador hoje tem que reinventar o que ele faz e criar para fazer muitas outras atividades de prestação de serviço. É preciso avançar para área de estoque e controle, financeiro das empresas. O desafio é reinventar suas tarefas com o uso forte de tecnologia e ampliar o leque de serviços que ele oferece."
Universidades enfrentam desafios para se adaptar às transformações
O professor João Marcos Leão da Rocha, chefe do departamento de Ciências Contábeis da Ufrgs, diz que o ensino das universidades poderá sofrer algumas mudanças, como retirada da disciplina de contabilidade internacional dos currículos. Isso porque, com a incorporação das normas será desnecessário ter uma disciplina específica para abordar conteúdos diluídos no curso. "A maioria dos coordenadores está chegando à mesma conclusão. Essa é uma tendência, de ter as normas mundiais harmonizadas às especificidades brasileiras", afirma Rocha. No entanto, ele analisa a possibilidade da criação de uma disciplina de Tópicos Contemporâneos de Contabilidade para que sejam abordadas outras atualidades.
Em recente encontro de coordenadores dos cursos de Ciências Contábeis promovido pelo Conselho Federal de Contabilidade foi discutido que muitas instituições têm dificuldades pontuais em relação às mudanças. Rocha explica que o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes(Enade) será aplicado este ano e vai avaliar os cursos e os professores por meio do desempenho de seus alunos. "A partir daí, teremos uma noção do que é preciso mudar".
Segundo o professor da Pucrs Marcelo Coletto Pohlmann, contador, mestre e doutor em contabilidade, não existe um currículo padrão para todos os cursos de graduação em Ciências Contábeis autorizados a funcionar no Brasil, mas, sim, diretrizes curriculares estabelecidas pelo MEC que devem ser observadas no delineamento do projeto pedagógico de cada Instituição de Ensino Superior (IES). Segundo ele, a norma atualmente em vigor data do ano de 2004 e prevê, com relação à questão posta, que os cursos de Ciências Contábeis ensejem condições para que o futuro contador seja capacitado a compreender as questões científicas, técnicas, sociais, econômicas e financeiras, em âmbito nacional e internacional e nos diferentes modelos de organização.
Ambos os professores ressaltam a alta demanda por profissionais com conhecimento das normas internacionais de contabilidade, como às International Accounting Standards (IAS), as International Financial Reporting Standards (IFRS) e as normas norte-americanas (US GAAP). Essa última demanda ainda deve permanecer, ao menos enquanto o referido país não aderir por completo às normas do IASB. A adesão, entretanto, não deverá demorar, uma vez que a União Europeia, o maior bloco político e econômico regional do planeta, já está adotando as normas do IASB e há uma pressão muito grande nessa direção.
Conforme Pohlmann, o currículo da Pucrs já contempla disciplina que abrange especificamente esse conteúdo, intitulada Tópicos de Contabilidade Avançada e Internacional, e uma série de atividades complementares está programada, tendo a harmonização das normas brasileiras às normas internacionais como tema principal.
Além disso, os conteúdos básicos das disciplinas de contabilidade financeira, que são a coluna vertebral do curso, necessariamente passarão por alterações para considerar as novas práticas decorrentes do manancial normativo que vem sendo emitido pelo CPC e pela CVM, além das recentes alterações promovidas na própria Lei 6.404/76.
Área pública ganha destaque
As mudanças na profissão valorizam o contador da área pública. Antes visto como aquele que complicava a vida de prefeitos e gestores públicos, hoje assumiu papel de maior relevância com o advento da Lei de Responsabilidade Fiscal. "O prefeito que não cumprir determinados itens pode ir preso", afirma João Marcos Rocha, do Departamento de Ciências Contábeis da Ufrgs.
Segundo ele, nos próximos três anos a tendência mundial é de que a contabilidade pública se torne quase igual à contabilidade privada em termos de importância. "Os órgãos financiadores internacionais querem saber como está o Balanço Brasil, o Balanço Porto Alegre, querem saber se os órgãos da Fazenda estão agindo de forma harmônica para implementar isso. O objetivo é buscar maior transparência.
por Lara Ely
Com o advento da lei 11.638, que converte às normas brasileiras aos padrões internacionais pelo IFRS e uma outra dezena de alterações nas leis e decretos do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), o momento atual é de mais responsabilidade e oportunidade profissional do que há cerca de dez anos. Com a velocidade que a profissão sofre mudanças, a alta demanda por serviços exige que os profissionais contábeis busquem cursos de atualização e mantenham-se em um processo de educação continuada.
Atentas à importância deste momento transitório, as entidades de classe têm se esforçado para oportunizar aos seus associados uma série de eventos que incentive a atualização, a exemplo do Conselho Regional de Contabilidade. Segundo o presidente do CRC - RS, Rogério Rokembach, em função da mudança da legislação a entidade tem promovido seminários e palestras que visam a manter os profissionais informados sobre as mudanças. E apesar de a principal função do Conselho ser a fiscalização e registro da profissão, Rokembach entende que é seu papel alertar o que vem por aí e quais as habilidades requeridas pelo mercado.
A necessidade de melhorar os conhecimentos em tecnologia está entre as novas exigências. "Além dos aspectos tributários e contábeis, os contadores vão precisar avançar muito em seus conhecimentos de tecnologia, por exigência da legislação, e para garantir a sobrevivência e ter prosperidade", afirma ele. Outro ponto importante apontado pelo presidente do Conselho é que as empresas de contabilidade precisam aprender a se fortalecer, avaliando a possibilidade de fazer fusões para ter mais crescimento, e aí sim ter porte para investir em tecnologia.
Além dessa modernização, os cursos mais pretendidos pelos que querem se atualizar, historicamente, são voltados a auditoria, perícia e contabilidade pública. A contabilidade internacional desponta como outra área de maior procura para especialização, e segundo Rokembach, o segmento tem muito a crescer, já que o assunto é recente e o mercado ainda não está preparado para dar conta da atual demanda.
O maior desafio apontado pelo representante da categoria, no entanto, está relacionado ao empreendedorismo na profissão. "O contador hoje tem que reinventar o que ele faz e criar para fazer muitas outras atividades de prestação de serviço. É preciso avançar para área de estoque e controle, financeiro das empresas. O desafio é reinventar suas tarefas com o uso forte de tecnologia e ampliar o leque de serviços que ele oferece."
Universidades enfrentam desafios para se adaptar às transformações
O professor João Marcos Leão da Rocha, chefe do departamento de Ciências Contábeis da Ufrgs, diz que o ensino das universidades poderá sofrer algumas mudanças, como retirada da disciplina de contabilidade internacional dos currículos. Isso porque, com a incorporação das normas será desnecessário ter uma disciplina específica para abordar conteúdos diluídos no curso. "A maioria dos coordenadores está chegando à mesma conclusão. Essa é uma tendência, de ter as normas mundiais harmonizadas às especificidades brasileiras", afirma Rocha. No entanto, ele analisa a possibilidade da criação de uma disciplina de Tópicos Contemporâneos de Contabilidade para que sejam abordadas outras atualidades.
Em recente encontro de coordenadores dos cursos de Ciências Contábeis promovido pelo Conselho Federal de Contabilidade foi discutido que muitas instituições têm dificuldades pontuais em relação às mudanças. Rocha explica que o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes(Enade) será aplicado este ano e vai avaliar os cursos e os professores por meio do desempenho de seus alunos. "A partir daí, teremos uma noção do que é preciso mudar".
Segundo o professor da Pucrs Marcelo Coletto Pohlmann, contador, mestre e doutor em contabilidade, não existe um currículo padrão para todos os cursos de graduação em Ciências Contábeis autorizados a funcionar no Brasil, mas, sim, diretrizes curriculares estabelecidas pelo MEC que devem ser observadas no delineamento do projeto pedagógico de cada Instituição de Ensino Superior (IES). Segundo ele, a norma atualmente em vigor data do ano de 2004 e prevê, com relação à questão posta, que os cursos de Ciências Contábeis ensejem condições para que o futuro contador seja capacitado a compreender as questões científicas, técnicas, sociais, econômicas e financeiras, em âmbito nacional e internacional e nos diferentes modelos de organização.
Ambos os professores ressaltam a alta demanda por profissionais com conhecimento das normas internacionais de contabilidade, como às International Accounting Standards (IAS), as International Financial Reporting Standards (IFRS) e as normas norte-americanas (US GAAP). Essa última demanda ainda deve permanecer, ao menos enquanto o referido país não aderir por completo às normas do IASB. A adesão, entretanto, não deverá demorar, uma vez que a União Europeia, o maior bloco político e econômico regional do planeta, já está adotando as normas do IASB e há uma pressão muito grande nessa direção.
Conforme Pohlmann, o currículo da Pucrs já contempla disciplina que abrange especificamente esse conteúdo, intitulada Tópicos de Contabilidade Avançada e Internacional, e uma série de atividades complementares está programada, tendo a harmonização das normas brasileiras às normas internacionais como tema principal.
Além disso, os conteúdos básicos das disciplinas de contabilidade financeira, que são a coluna vertebral do curso, necessariamente passarão por alterações para considerar as novas práticas decorrentes do manancial normativo que vem sendo emitido pelo CPC e pela CVM, além das recentes alterações promovidas na própria Lei 6.404/76.
Área pública ganha destaque
As mudanças na profissão valorizam o contador da área pública. Antes visto como aquele que complicava a vida de prefeitos e gestores públicos, hoje assumiu papel de maior relevância com o advento da Lei de Responsabilidade Fiscal. "O prefeito que não cumprir determinados itens pode ir preso", afirma João Marcos Rocha, do Departamento de Ciências Contábeis da Ufrgs.
Segundo ele, nos próximos três anos a tendência mundial é de que a contabilidade pública se torne quase igual à contabilidade privada em termos de importância. "Os órgãos financiadores internacionais querem saber como está o Balanço Brasil, o Balanço Porto Alegre, querem saber se os órgãos da Fazenda estão agindo de forma harmônica para implementar isso. O objetivo é buscar maior transparência.
Ele diz que os grandes centros urbanos são locais que obrigatoriamente devem ter acesso à disciplina de contabilidade pública. Já está se observando que muitos profissionais estão buscando oportunidade e segurança em concursos públicos.
Boa parte dos estudantes com interesse na área tributária buscam graduação em Direito. Ao mesmo tempo, muita gente que fez o curso de Direito busca Contábeis. Para Rocha, isso representa uma complementação da visão holística da estrutura ao pragmatismo da contabilidade.
Atuação das entidades de classe reflete no ensino
Uma forma de mensurar a demanda por qualificação profissional na área contábil é verificar os cursos de especialização ou MBAs, também conhecidos por cursos de pós-graduação lato sensu. Segundo o professor da Pucrs, contador, advogado, mestre e doutor em Contabilidade e procurador da Fazenda Nacional, Marcelo Coletto Pohlmann, os cursos mais frequentemente ofertados são os que centram seu foco nas atividades de controladoria, auditoria, perícia e gestão tributária.
"Essas áreas de atuação oferecem ótimas oportunidades de realização profissional e financeira para profissionais bem preparados, com sólida formação acadêmica e espírito de iniciativa e liderança." Ele destaca que o verdadeiro boom normativo contábil que se vive no momento criará uma demanda por uma área pouco explorada em cursos de especialização e de extensão, dedicada ao estudo de tópicos avançados de contabilidade financeira. Segundo ele, desde 1976, não se via tantas possibilidades profissionais como agora.
Para Pohlmann, os reflexos da maior atuação das instituições representativas da profissão, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) já se fazem sentir no âmbito das universidades, uma vez que há uma verdadeira revolução no corpo normativo contábil. O fato implica uma imediata necessidade de estudo e atualização, primeiramente dos professores, e, logo a seguir, dos alunos. Por isso, é crescente a necessidade de atividades complementares e de cursos de extensão.
Trabalho pela melhoria no padrão de cursos
Com a alta demanda por cursos na área contábil, surgiu a necessidade de maior profissionalização dos programas. Criado em 2008 para dar conta disso, o Instituto Razão de educação corporativa faz projetos e desenvolve cursos focados na área contábil sob demanda. "A grande massa de contadores percebe que a contabilidade mudou. A pessoa se adapta e se qualifica ou não terá espaço. Obrigatoriedades, novidades precisam ser observadas", afirma Wilson Riber Hamilton Danta, um dos sócios do Instituto Razão.
Para conferir maior status aos cursos oferecidos, foi feita uma parceria com a Esade. Juntos, ambas as entidades desenvolvem o MBA em Auditoria Contábil. A proposta é criar uma sinergia para os profissionais da área, envolvendo instituições que normalmente trabalham em separado. A iniciativa envolve o Ibracon, a Esade e Instituto Razão, agrupando instituição de ensino, entidade de classe e empresa de qualificação. Além de ter certificação do MEC, o curso é associado a uma rede internacional de faculdades e permite aos alunos que uma parte seja cursada no exterior.
Conforme Danta, há necessidade de profissionalizar os cursos. "Antigamente, a comissão de estudos de auditoria externa do CRC-RS elaborava e organizava tudo, mas está chegando a um nível de demanda e de complexidade que alguns cursos têm que ser encarados como um negócio.
Fonte: JC Contabilidade - Porto Alegre, Quarta-Feira, 15/4/2009 (via Flavio Dantas)
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