As duas versões da verdade
Carlos Henrique RochaMuitas companhias utilizam os relatórios contábeis tradicionais para medir o resultado financeiro dos seus negócios. E sofrem bastante com isso, já que as técnicas tradicionais simplesmente não tornam possível uma adequada gestão de desempenho, englobando vários públicos e as diversas dimensões das empresas (clientes, produtos, geografias, etc.). Um desafio comum no mercado tem sido em como criar uma nova versão dos números que possibilite a adequada gestão do desempenho de suas operações.
Indo contra os que costumam dizer que só existe uma versão da verdade, temos conduzido diversos projetos em empresas diversificadas que buscam a existência de outra versão. São projetos que implementam novos modelos de classificação das receitas e dos custos, diferenciando a versão gerencial da tradicional versão financeira legal e, desta forma, possibilitando melhor atendimento aos públicos internos e externos.
A primeira verdade, ou a versão dos demonstrativos financeiros legais, por medir o resultado do desempenho geral e também por sua estabilidade, precisão e confiabilidade, atende plenamente ao público externo e ao mercado. Provê uma consolidação contábil baseada em cálculos do desempenho passado, envolvendo complicações adicionais de CVM, SOX, Basiléia II e outras regulamentações para garantir a qualidade necessária. Utiliza-se de práticas focadas em estratégias tributárias, transferências entre-empresas, etc., mas que tem se mostrado gerencialmente inadequada, quando o assunto é atender à informação para possibilitar a condução dos diversos negócios, além de não possibilitar a criação de valor a logo prazo e de forma sustentável.
Já a versáo dos demonstrativos gerenciais foca na eficiência e efetividade das diversas unidades de responsabilidade. Os resultados são multidimensionais e mostram os consumos de recursos e a rentabilidade de forma independente da estrutura legal. Outras respostas começam a surgir a partir daqui, tal como quão rentável são as diversas dimensões organizacionais? Quais as principais alavancas de custos? Quanto me custa a ociosidade? E o que acontece com a rentabilidade de uma unidade específica, se for possível reduzir uma determinada taxa de consumo de custos?
Uma grande empresa recentemente concluiu a implantação de seu novo modelo, no qual sua versão legal permanece focada na estrutura geográfica tradicional, enquanto sua versão gerencial trabalha com novos demonstrativos de resultados baseados em como as unidades de negócio consomem seus custos (desde a visão consolidada dos grupos, passando pelas diversas operações até chegar às unidades de negócio). O novo modelo de informações possibilitou ganhos acima de 8% em EBITDA, a partir da compreensão e discussão madura entre as unidades de o que alavanca suas estruturas de receitas e de custos.
Ainda que os benefícios de tais iniciativas sejam comprovados, pressupõem mudanças profundas que precisam ser observadas e tratadas com cuidado, já que transcendem à dimensão técnica. De nada adianta a criação de um novo modelo gerencial conceitualmente perfeito, com vários relatórios segmentados de Lucros & Perdas, se a responsabilidade não for estabelecida de fato. Estas são transformações que requerem uma forte gestão, uma clareza das regras e, certamente, algum tempo até que se estabilizem, pois afetam aspectos culturais profundos. Mas que valem a pena...
Fonte: FinancialWeb
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