quarta-feira, 18 de março de 2009

Análise dos Balanços de 2008: O desafio - II

Afogados em números

A PETROBRAS divulgou seu balanço anual no último dia 6 e provocou uma dupla confusão. De início, apresentou dois lucros em 2008: um de R$ 32,988 bilhões e outro de R$ 33,915 bilhões. O primeiro resultado está de acordo com as novas regras contábeis que deverão ser aplicadas a partir do final de 2009, e o segundo está no formato da antiga contabilidade. Se já era difícil entender os balanços com uma regra, imagine com duas. Para piorar, os dados da Petrobras vazaram para alguns analistas antes de o balanço ser divulgado ao mercado, em mais um caso de informação privilegiada. Outras empresas, como Pão de Açúcar, Ambev, Vale e Camargo Corrêa, divulgaram também informações sob o formato da nova contabilidade, que vai dificultar a comparação dos balanços dos anos anteriores. Os investidores, que já não tinham mais a referência das bolsas sobre o valor das empresas - as cotações, em muitos casos, não refletem nem o dinheiro em caixa das companhias -, estão perdidos num labirinto de números.

O primeiro passo para sair dessa confusão é entender o novo padrão contábil, chamado de International Financial Reporting Standards (IFRS), adotado em mais de 100 países. Ao utilizar o IFRS, as empresas deverão contabilizar detalhadamente todos os seus instrumentos financeiros, incluindo derivativos, stock options (mecanismos utilizados para calcular a remuneração de executivos de uma empresa) e também o impairment, jargão atribuído ao valor recuperável de ativos de uma empresa. Esses itens não precisavam de detalhamento de acordo com as antigas regras. Um exemplo recente ocorreu no último balanço do HSBC. As operações da financeira do banco nos EUA foram encerradas e o prejuízo de US$ 10 bilhões foi contabilizado como impairment, ou seja, um valor que poderá ser recuperado caso os devedores saldem suas dívidas.

Para o Brasil, adotar o padrão IFRS é interessante, já que muitos bancos internacionais enxergam nosso modelo contábil como passível de erro. Com a mudança, os analistas poderão rever suas recomendações em relação às ações listadas aqui. Os pequenos investidores em ações terão de se esforçar mais para decifrar os balanços, o que já não é tarefa simples. "Para leigos, um balanço é como um novo idioma. É preciso muita dedicação e paciência para entender", afirma Luis Fernando Moran de Oliveira, diretor do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI).

No site do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (www.cpc.org.br), há um documento que explica detalhadamente todas as mudanças que os balanços sofrerão e como fazer os cálculos para comparar os resultados atuais com os de anos anteriores. No entanto, isso é tarefa para auditores e analistas. Ao pequeno investidor, entender alguns números básicos já é o suficiente. É o que afirma o professor de Mercado Financeiro do Ibmec São Paulo, Ricardo Almeida: "Análise de balanço é trabalho para analistas. O investidor paga a corretora para isso, para prestar esse serviço e elaborar relatórios com base nos resultados das empresas." No entanto, existem números que nem sempre constam em relatórios e que podem despertar a curiosidade do investidor. "Nesse caso, ele deve entrar em contato permanente com o departamento de RI da empresa. Afinal, ele é sócio dela. E é dever das empresas esclarecer essas dúvidas", afirma Oliveira, do IBRI.


Para o investidor com disposição, Oliveira sugere um curso de análise de balanço. Isso pode evitar a tomada de decisões muito ruins, com base em informações não compreendidas corretamente. O problema é que, dentro de pouco tempo, o próprio IFRS poderá sofrer alterações. Tudo porque o padrão contábil norte-americano, chamado de US GAAP, não é exatamente igual ao internacional. E a tendência é que o IFRS sofra ainda modificações para conseguir essa sinergia. Ou seja, outras mudanças contábeis virão. Quanto aos números, eles estão aí. Entendê- los ou optar pela ignorância são os caminhos existentes. Boa sorte.

Fonte: Revista IstoÉDinheiro, edição 597 - 18/03/2009

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A reportagem termina desejando "boa sorte".
Algumas reflexões:

a) Será que agora teremos "boa sorte" por termos demonstrativos mais transparentes e que espelham a verdadeira situação econômica, financeira e patrimonial das empresas? Será que antes os relatórios contábeis não reportavam a verdade?! Vivíamos em um ambiente de faz-de-conta? Dividendos deixaram de ser pagos ou foram pagos indevidamente?

b) Será que temos "sorte" porque as portas do crédito no mercado financeiro internacional irão se abrir com mais intensidade para as empresas brasileiras?

c) Será que os pequenos investidores em ações precisam de "boa sorte" porque dependem das informações dos analistas de mercado e estes ainda não estão seguros dos impactos das novas normas sobre os indicadores? Vale lembrar que 2008 tem sido apontado como o "marco zero" para a análise de balanço em razão da convergência às IFRS. Então, qualquer análise neste momento requer uma boa dose de "sorte" para o analista? Não podemos esquecer que muitas empresas brasileiras, com ações negociadas fora do Brasil, já reportavam em IFRS, e para estas não haverá muita dificuldade para os analistas fazerem as devidas análises de tendência.

Um novo cenário e novo desafio se mostra aos contadores, auditores, analistas, professores e pesquisadores. Nunca a educação continuada se fez tão necessária no meio contábil. Como sugere a matéria, um curso de Análise de Balanço é o indicado neste momento.

Aos analistas cabe uma transparência "além da conta" na hora de opinar, deixando explícito as limitações da análise neste ambiente de transição normativa.

Veja também Análise dos Balanços de 2008: O desafio ; IFRS e comparabilidade de relatórios


De qualquer sorte, boa sorte a todos!

1 comentários:

Anônimo disse...

Deveria constar ali também : Dúvidas ? contate um contador. ele é a pessoa certa para lhe ajudar !

Parabéns pelo blog excelente